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sexta-feira, 27 de maio de 2011

ONÍRICAS - 1



O RESGATE DO CADETE FELIPE
                ...estava dentro da Escola. A faraônica construção de três andares, um edifício chato, mais para retangular que quadrado, todo envidraçado, com amplas portas, escadarias e corredores largos, próprios para permitir o imenso número de crianças e adolescentes aquartelados, era fortemente guardado por um batalhão de adolescentes armados com pistolas elétricas. Essas armas disparavam esferas de aproximadamente dois centímetros de diâmetro que, ao atingir o corpo humano, liberavam uma carga elétrica de alta voltagem, capaz de imobilizá-lo no mesmo instante.
                Confiando que ninguém percebesse que o meu uniforme era de número maior que a minha roupa usual, atravessei o saguão de entrada em direção à escadaria que levava aos dormitórios, no último andar. Alguns alunos me cumprimentaram, pensando que eu fosse um professor.
                Subi as escadas tentando manter a calma. Cheguei ao terceiro andar, que estava deserto. Localizei o corredor onde ficava o quarto do cadete Felipe.  Rapidamente cheguei ao destino. Procurando manter a naturalidade, pois sabia que estava sendo vigiado pelas câmeras de segurança, abri a porta. No instante em que entrei, uma figura pequenina, vestida com um chapéu cônico e túnica preta, como se fosse uma bruxa, entrou atrás. Não faço a menor idéia de onde ela saiu, pois tive o cuidado de observar se havia alguém nas imediações.
                Felipe estava deitado, a tez negra opaca, típica de dopagem. Segurando pela gola do uniforme, chacoalhei-o, para fazê-lo acordar. A bruxinha segurou delicadamente a minha mão. Larguei-o. Ela, então, levou aos lábios do menino alguma coisa que me pareceu uma bala, ou uma folha de planta, não sei exatamente. Ele abriu a boca, ela introduziu a folha lá. Ele fechou os lábios e, lentamente, abriu os olhos. Um débil sorriso surgiu em seus lábios carnudos.
                — Olá, professor, murmurou.
                — Consegue andar? — perguntei, sussurrando.
                — Acho que sim, ele balbuciou, e apontou para uma cômoda na parede.
                Lá estava uma arma. Peguei-a.
                — Está descarregada, resmunguei. Mesmo assim, peguei-a e voltei para ajudá-lo a levantar-se.
                Ele abraçou-me a cintura e eu o sustentei segurando debaixo do seu braço. Saímos do quarto e fomos para a escadaria. Quando estávamos descendo, um cadete da segurança tentou nos deter. Antes que conseguisse sacar a arma, atingi-lhe o rosto com a minha, derrubando-o. A bruxinha rapidamente apossou-se da arma dele, que me entregou em troca da que estava em minha mão. Pelo peso, percebi que aquela estava com a carga completa.
                Aos poucos o garoto foi se recuperando. Quando chegamos ao saguão, ele já conseguia caminhar sozinho. Como era hora de troca de aula, conseguimos nos misturar ao populacho que andava em direção às salas, o que nos camuflou. Não fomos incomodados por ninguém. Fomos, porém, empurrados para uma saída lateral, o que nos desviava do plano inicial de sair pela frente, junto com os alunos. Aquele desvio significava que teria que contornar metade do prédio, cerca de meio quilometro de construção, para chegar ao ponto do resgate.
                A lateral do jardim estava deserta. Começamos a correr pela calçada junto à parede. Naquele lado não havia janelas, o que aumentava nossa chance de êxito. À vigilância das câmeras pareceríamos uma dupla de alunos atrasados para a aula.
                A bruxinha, que parecia flutuar acima do chão, tocou meu braço e apontou para uma portaria.
                Recusei a sugestão:
                — É muito perigoso. O socorro virá pela frente.
             Contornamos o prédio. Um enorme trator de terraplanagem trabalhava no jardim, movendo toneladas de terra. Corremos pelo gramado, em direção ao muro, mais de um quilometro de distância. De repente, alguém deu o alerta. Um grupo de cadetes correu em nossa direção, sacando as armas. Estendi o braço e atirei. As esferas partiram, atingindo alguns dos soldados. Os outros pararam, buscando abrigo. O motorista do trator manobrou-o de forma a nos interceptar. A imensa placa de ferro negro avançou sobre nós. Desviei minha rota, correndo ao longo da lateral da máquina, aproximando-me do motor. Disparei algumas esferas e voltei para junto dos meus companheiros. Logo em seguida, a máquina explodiu e parou. Contornamo-la e continuamos a correr, com os cadetes em nosso encalce. Quando estávamos a aproximadamente cem metros do muro, surgiu uma forma humana com mais de quinze metros de altura, flutuando por sobre as árvores. Era o garoto inflável, que se aproximava. Quando chegamos ao muro, ele já estava lá, segurando no topo da copa de um eucalipto imenso com uma mão. Com a outra, ele tirou uma corda de uma bolsa presa à cinta e lançou-a por sobre o muro alto. O cadete Felipe foi o primeiro. Segurou-se na corda e foi içado pelo nosso salvador para a bolsa. Enquanto isso, eu procurava manter os seguranças à distância, disparando as esferas elétricas. Novamente a corda foi lançada e a bruxa subiu, ou melhor, voou para a bolsa, segurando-se na corda. Quando disparei a última esfera, a ponta da corda caiu do meu lado. Agarrei-a firme, jogando a arma contra os cadetes.
                O menino inflável largou a árvore e flutuou para cima rapidamente, levando-me pendurado...   



  

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