Oi, tudo bem?

Que bom que você veio.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

HOLOCAUSTO


HOLOCAUSTO
Tótila Artigas








Hoje já faz três meses que estou aqui. Tenho que escrever, senão, vou enlouquecer. Edi ficou louco depois da primeira semana, saiu, voltou algumas horas depois. Estava com o corpo coberto de chagas, pareciam queimaduras, ou bicheiras, sei lá... morreu, estrebuchou diante de nossos olhos. Falei pra ele não sair, era perigoso, ouvi tudo pelo rádio.
Vou escrever de novo tudo o que aconteceu. Quem sabe algum dia, nos séculos vindouros, alguém encontra estas páginas. Então vai saber o que aconteceu no mundo. Estou preso dentro do depósito de um supermercado, no centro do que um dia foi a maior cidade da América do Sul. Isto é o que restou da cidade. Antes de estrebuchar, Edi contou como está lá fora. Os cadáveres se amontoam nas ruas. Quem ainda esta vivo, perambula sem destino e sem inteligência. O gás ataca o cérebro, a pessoa fica abobada, parece um pouco aqueles zumbis dos filmes norte americanos... foi isso o que ele falou, entre gemidos e gritos de dor. Não conseguimos fazer nada para aliviar o seu sofrimento. Tentamos amenizar um pouco dando uísque, cachaça, vinho, até ele ficar completamente bêbado. Deu certo, ele parou de sofrer. Mas as chagas progrediram até ele se tornar uma chaga imensa. Estrebuchou sem sofrer, de tão bêbado que estava...
O Brasil era um país neutro, não tinha nada a ver com o conflito, que aconteceu lá na Ásia, Oriente Médio, sei lá. A situação estava ficando estranha. Grupos de certo povo, se desentenderam entre si, com outros povos, com outras religiões... De repente, algum deles disparou uma bomba atômica. Era para ir para um país, nas margens de um mar interior, errou o alvo e foi para outro, acho que para o leste, para um país governado por um ditador, dividido em dois. O ditador pensou que foi o país da potência econômica, disparou uma bomba para cair na costa Oeste dele. Caiu na potencia industrial que inunda o mundo com produtos fabricados com mão de obra escrava, segundo seus críticos. Na potência econômica, grupos religiosos extremistas explodiram as usinas termo nucleares. A potência industrial revidou a bomba do ditador jogando algumas bombas no arquipélago vizinho, que quer ficar com uma ilha, e destruiu as usinas termo nucleares do arquipélago. Enquanto isso, os grupos religiosos infiltrados na potência econômica dispararam bombas em direção ao país que fica na margem do mar interior, que foram interceptadas e explodiram sobre a Europa. Eles espalharam pela Internet que iam fazer isso, logo, logo. E que ninguém iria conseguir impedi-los. Não lembro o nome de qual organização religiosa oriental assumiu os primeiros atentados, aos brados de “meu deus é o maior”, embora os representantes legais desse deus negassem qualquer relação. Tendo em vista o extremismo de determinados grupos, não duvido muito quem tenha feito isso. Foi uma reação em cadeia, toda ela errada. Ou sabotada, não sei. Nenhuma bomba explodiu onde deveria ter explodido. Em questão que dias, menos de uma semana, o mundo explodia debaixo de tantas bombas. Cada grupo religioso/político/social acusava o outro de fazer isso ou aquilo. A intolerância religiosa estava acima de qualquer interesse social, político, econômico, racial, ou qualquer outro que fosse. Os ventos transportaram os gases venenoso, acho que não eram só bombas atômicas. Deviam ter outras, de gases letais, a gente nunca sabe o que se passa pelas cabeças dos governantes que querem construir armas para defender seus países. A vida humana perdeu completamente o valor. Talvez os deuses de cada religião estejam felizes agora. Todas as almas que deveriam temê-los, adorá-los, respeitá-los, agora estão bem juntinho deles, cada um no seu paraíso particular.
Hoje deve estar fazendo quatro meses que as bombas estouraram. Ernie, Elisa, Marquinhos, não aguentaram. Elisa saiu três semanas depois do Edi e não voltou. Não faço a menos idéia do que aconteceu com ela. Ernie voltou, estava com o corpo muito machucado, e abobado também. Não falava coisa com coisa. Ficou dois, ou três dias, comeu, engoliu litros de bebidas alcoólicas e saiu outra vez. E desapareceu. Marquinhos saiu faz dez dias, voltou incólume (essa tirei do dicionário), disse que não tinha mais problema, comeu um pouco, bebeu um pouco e foi embora.  Disse que tem um monte de esqueletos lá fora, mas estou duvidando, acho que ele não foi além do prédio do shopping. Bem, de qualquer forma, ele não está mais aqui.
Não sei quanto passou desde que escrevi a ultima vez. Li dois livros, comi, dormi, mas não tive ânimo de escrever. As vezes tenho a impressão de que estou sonhando. Acho que vou sair.
Estou andando pela avenida Paulista. Ainda tem mortos frescos pelas ruas. É estranho. São Paulo vazia desse jeito. Nem na madrugada do primeiro dia do ano. Carros, ônibus, metrôs, tudo parado. Silencioso. Espere, silencioso não. Acho que estou ouvindo um pássaro cantar.
Desci a brigadeiro Luis Antonio até o centro. Passei pela igreja dos triângulos entrelaçados e não encontrei o deus lá. A paisagem monótona de sempre. Sem vida, sem trânsito. Entrei na igreja do passarinho no coração, e o deus não estava lá, nem o deus da igreja da lua estava lá. Serei eu o único homem na cidade? No Estado? No Brasil? NO MUNDO???
Encontrei o marquinhos. Sentaddo na murreta do jjardim na praça da republica. Acho que petrificou. Estava duro com o pedraa. Estou senntado do do lado dele. O sol está forete e brilante. Acho que estou com fome. Paseei por um teatro de estripe tease, tinha a fottoo de uma mulher pelada em tamanho de gente. Peqei a arma de um policial queestafa caído petrefecado comoomarquinho. Nã seei por  q eu , descaregeui o revolver em cima da fotto ela continuou pelada sirondo prara mim a quanto tempo não teho umaaaa mulher semtei no banco no lrgo do paisundu a igreaj ta da crrruuz abertrta mas deus não est ala drentrao oooooonndddde esssstaâoo nnoooosss dedeuuseesss??????  estou morrendo nõãoo consigo rarararaacaiconar um rraaato qre falraar coomiiggggo miiiiiiiiiigiioooooo  éeeeeeeeeee ofiiiiiiiimm...............

ilustração: bone yard masquerade, Michael Thomas, in The Macabre And the Beautifully Grotesque