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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Mulher de deusa a puta


MULHER DE DEUSA A PUTA
Tótila Artigas















Mulher,
na aurora dos tempos,
foste considerada deusa.
Teu segredo em sangrar e viver,
gerar a vida e alimentá-la,
colocou-te no altar.
Conhecias os segredos da cura,
das ervas e do tempo.
Para ti, o homem, teu companheiro,
esculpiu tua imagem.
Erigiu altares.
Venerou-te.
Dedicou a ti a terra,
as plantas,
as sementes.
Pois em teu ventre,
recebias a semente da humanidade.
Mas o homem,
esse que era teu companheiro,
decidiu, certo dia,
criar outro deus.
Um deus masculino e misógino.
E, em nome dele,
destituiu-te de teu posto.
Acusou-te de crime que
nem tinhas consciência
que existia.
Tua meiguice e delicadeza,
o poder de ter e de proporcionar prazer,
tua fraqueza física.
Tornou defeitos o que eram tuas qualidades.
Jogou sobre ti o fardo do pecado para carregares.
Teus conhecimentos já não são benéficos.
Não podes mais curar com plantas e carinho.
Teu corpo tornou-se odioso ao olhar,
É mister que escondas tua beleza.
A geração da semente em teu ventre plantada,
não pode ser feita com o teu prazer, pois
até este te foi extirpado.
Aquele que fora teu companheiro,
agora é teu dono,
teu senhor.
Arvora-se o direito de mandar em ti,
decidir teu caminho,
tua vida e tua morte.
Mas na tua fraqueza
reside tua força.
Lenta e inexorável,
Como o filete de água que escorre pela rocha,
tu abres teu espaço.
Sabes que não voltarás a ser a deusa
que um dia já foi.
Deseja apenas ser mulher.
Livre e reconhecida,
dona de seu corpo,
mente e destino.
Independente,
mas companheira.
Ocupar teu lugar real,
ao lado de teu companheiro.
Jamais acima.
Nunca mais abaixo.

Cubatão, 12/01/12