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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DIA DO LIXO

DIA DO LIXO

Ou seria de jogar o lixo no lixo? Recentemente, vi uma propaganda de página inteira numa revista: Seja você também catador por um dia. Ajude a limpar a cidade. CHEGA DE LIXO FORA DO LIXO! EU SOU CATADORA. A foto estampava o simpático sorriso da atriz Marília Pêra.
Meu Deus, que país é este, que é preciso convocar as pessoas para jogarem seus lixos no lixo? Famosos, mais famosos, não tão famosos, aparecem em todos os tipos de media (leia-se mídia, do inglês, e não média, do latim), constantemente, convocando o cidadão brasileiro a jogar seu lixo no lixo!
A realidade é que o povo brasileiro já traz essa falta de higiene no seu gene. Quando o descobridor Pedro Alvares Cabral cá aportou, escreveu ao el-rei as seguintes palavras: "é uma terra riquissima". Estava decretado o saque oficial do continente que viria a ser chamado de americano, na área correspondente ao futuro Brasil. Nada interessava ao colonizador (invasor) que não fosse riqueza monetária. Se a fauna, flora ou mineral pudesse ser transformado em ouro, então, deve ser conservado, se não, destrua-o, para não atrapalhar a extração da riqueza. Isso incluia o habitante original, que atravessou, a pé, imensas distâncias de florestas, desertos e montanhas, navegou milhares de milhas marítimas pelo que seria chamado oceano Pacífico, para chegar aqui e criar, durante alguns milênios, culturas sui-generis. Iniciaram assim o saque e a destruição do novo continente.
Enquanto a riqueza natural era abertamente surrupiada destas terras muito chã, a Europa batalhava a Revolução Industrial. Bem, até aqui, desculpa-se a ignorância humana a respeito da poluição. Não se sabia que o lixo e a poluição produzidos pela Revolução produzia também doenças e matava. Isso era novidade. Mas não demorou muito para que aprendessem. Afinal, a mão de obra estava morrendo por causa da produção de riquezas monetárias. Logo a Coroa britânica percebeu que o Rio Tâmisa estava virando um esgoto a céu aberto e que o peixe que nela nadava, alimento básico, já não alimentava mais!
Na Alemanha, os alemães descobriram que o romântico Rio Reno, o rio da unidade européia, estava seguindo os mesmos passos que o Tâmisa. Já não se ouvia mais o cântico de Lorelei nas suas águas turvas de poluição.
No Brasil dessa época, ainda não havia chegado a poluição industrial, mas a humana não ficava muito longe. Os esgotos dos banheiros eram lançados nas ruas sem pavimento, que a enxurrada se encarregava de limpar, levando-os para os rios, assim como os dos animais também. Até aí, nada de novo. Mas o tempo passou. A revolução industrial chegou ao Brasil. As cidades foram inchando de gente, as favelas, mocambos e outros ajuntamentos sub-residenciais foram se formando. Os rios tornaram-se locais excelentes para se despejar lixo e dejetos de todas as espécies. Não existia a menor infra-estrutura para uma vida saudável. Qualquer local mais ou menos distante de um aglomerado urbano era propício à formação de um lixão.
No início do século XX, a Europa acordou para o problema da poluição e gritou "BASTA!". Estudos começaram a ser feitos para limpar o ar, a água e o solo contaminados. O Tâmisa e o Reno foram despoluidos. Cito esses dois apenas por serem exemplos. A despoluição atingiu a praticamente todos o cursos de água. Sena, Loire, e muitros rios voltaram à vida, depois de serem declarados mortos.
No Brasil, o Tiete e o Tamanduateí tinham suas sentenças de morte sendo decretadas. Todo esgoto, doméstico, industrial, comercial, humano e animal era simplesmente lançado neles. E continuaram sendo lançados, mesmo depois que os rios europeus tornaram-se cem por cento limpos, ou seja, atravessou-se o século vinte e entrou-se no século vinte e um jogando lixo nos rios, etapa final dos lixos largados em qualquer parte do solo brasileiro.
E daí? o leitor inteligente irá perguntar. Até aí, morreu Neres. Isso não é novidade nenhuma.
Bem, não tenho a intenção de falar nenhuma novidade aqui, apenas bater na mesma tecla mais uma vez, tecla essa que bati a primeira vez em 1970, num artigo semelhante publicado num jornal de bairro, e já não era novidade naquela época. O que quero acrescentar é que ainda hoje, quarenta anos depois daquele jornal, que já nem existe mais, ainda ouço o povo brasileiro retrucar, quando a gente fala para por o lixo no lixo: "eu não! Pra isso existe gari!" ou "E eu com isso?" ou "joga no chão, senão gari não tem lixo prá recolher e vai ser mandado embora do trabalho" ! Essa última, então, parece piada, mas já ouvi centenas de vezes.
A vivência no lixo está tão entranhada no brasileiro que não é dificil ver-se alguém depositar o lixo no chão, juntinho ao cesto do lixo. Talvez ele imagine que o lixo vai pular para dentro do cesto!
Infelizmente esse costume está tão arraigado no povo, que não diferencia classe, sexo, idade, cor, posição social, nível cultural, econômico, religioso, e qualquer outro fator que seja inerente a este povo.
Ops! Por favor, tudo o que escrevi aqui foi genérico! Tive oportunidade de ver locais, cidades, pessoas, que se esmeram em não jogar, e não permitir que joguem, lixo em local não adequado. Por favor, se você, que está lendo estas linhas, não pertencer ao grupo de seres humanos a que me referi no parágrafo anterior, não se sinta ofendido. Ofenda-se, isso sim, com os poluidores, que acham que o público não pertence a ninguém e que, por isso, pode poluir o nosso espaço.
Quiça um dia o brasileiro vai descobrir que o público é propriedade de todos, e começar a conservar a limpeza.