MULHER
DE DEUSA A PUTA
Tótila
Artigas
Mulher,
na
aurora dos tempos,
foste
considerada deusa.
Teu
segredo em sangrar e viver,
gerar
a vida e alimentá-la,
colocou-te
no altar.
Conhecias
os segredos da cura,
das
ervas e do tempo.
Para
ti, o homem, teu companheiro,
esculpiu
tua imagem.
Erigiu
altares.
Venerou-te.
Dedicou
a ti a terra,
as
plantas,
as
sementes.
Pois
em teu ventre,
recebias
a semente da humanidade.
Mas
o homem,
esse
que era teu companheiro,
decidiu,
certo dia,
criar
outro deus.
Um
deus masculino e misógino.
E,
em nome dele,
destituiu-te
de teu posto.
Acusou-te
de crime que
nem
tinhas consciência
que
existia.
Tua
meiguice e delicadeza,
o
poder de ter e de proporcionar prazer,
tua
fraqueza física.
Tornou
defeitos o que eram tuas qualidades.
Jogou sobre ti o fardo do pecado para
carregares.
Teus
conhecimentos já não são benéficos.
Não
podes mais curar com plantas e carinho.
Teu
corpo tornou-se odioso ao olhar,
É
mister que escondas tua beleza.
A
geração da semente em teu ventre plantada,
não
pode ser feita com o teu prazer, pois
até
este te foi extirpado.
Aquele
que fora teu companheiro,
agora
é teu dono,
teu
senhor.
Arvora-se
o direito de mandar em ti,
decidir
teu caminho,
tua
vida e tua morte.
Mas
na tua fraqueza
reside
tua força.
Lenta
e inexorável,
Como
o filete de água que escorre pela rocha,
tu
abres teu espaço.
Sabes
que não voltarás a ser a deusa
que
um dia já foi.
Deseja
apenas ser mulher.
Livre
e reconhecida,
dona
de seu corpo,
mente
e destino.
Independente,
mas
companheira.
Ocupar
teu lugar real,
ao
lado de teu companheiro.
Jamais
acima.
Nunca
mais abaixo.
Cubatão,
12/01/12